quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quando descobri que escrever era o "meu negócio"


Primeiro quero esclarecer as aspas. Quando digo "meu negócio" é sem pretenção gente. Porque não gosto do que escrevo, não há clareza e objetividade nas frases que construo. Ainda cometo erros de português (mistura com o espanhol e afins) e acho a minha retórica bastante previsível. Por outro lado, não ganho absolutamente nada escrevendo, o que é uma pena, pois estudei para isso. Portanto, não há negócio, é sem lucro; apenas perda de tempo e talvez de dinheiro, pois o tempo que gasto escrevendo, poderia usá-lo para estudar ou elaborar alguma estratégia para ficar rica e sair finalmente da pindaíba.

Após os esclarecimentos acima, que afirmo e confirmo não se tratar de vaidade e ambição, mas sim de paixão, conto-lhes quando vi que eu não tinha outra habilidade, senão esta, para me comunicar com as pessoas.

Começou quando era criança. Filha única, pais opressivos, não me restava outra que tentar comprá-los com pinturas ou colagens. A coisa estava funcionando, até que entrei para a escola e o que eu fazia deixou de arte para ser entulho. Jamais cogitei a possibilidade de me relacionar com as letras. Minha letra era um desastre, meu caderno e livros cheio de orelhas e quando não tinha uma borracha, cuspia no indicador e esfregava sobre o erro com toda a cara de pau do mundo. As professoras escreviam bilhetes aos meus pais, falavam mal de mim nas reuniões e meu pai, ex professor de matemática e geografia tentava me "dar um jeito". Minhas férias eram no mar, num mar de livros que meu pai comprava para me dar um jeito. Tinha caderno de caligrafia, dicionário, um material completo para me dar um jeito. Mas pau que nasce torto...

Minha pior nota era em língua Portuguesa e não havia tema que me interessasse, até que um dia, na aula de redação, jesus me deu um jeito (tô sendo irônica, tá gente). Tive a brilhante ideia de criar uma história em que envolvia todos os alunos da minha classe. E não é que ficou bom, tão bom que a professora teve a audácia de me inscrever (sem autorização prévia) no concurso de poesia do colégio.
Esse evento era o maior da época. Todos os pais prostados ante os micos comitidos por seus filhos e os alunos, esperando alguém meter os pés pelas mãos para massacrar o infeliz até o dia de sua morte. Participei do consurso. Pior, era uma das finalistas, até que uma bicha desgraçada descobriu que as poesias vinham nada mais e nada menos do disco 4 da Xuxa. Orra, ninguém ouvia aquela música, era o hit mais fracassado da rainha. Foi azar mesmo e fui massacrada até o resto dos meus dias naquele colégio por esse delito.

O trauma não me desanimou. Como havia muitos livros em casa, lia muito. E tentava criar as minhas histórias. Comecei escrevendo cartas de amor para minhas amigas. Depois passei para as de ameaça, quando os namorados das minhas amigas as enganavam com alguma bonitinha recém chegada no colégio. Até minha tia utilizou as minhas habilidades para ameaçar seu ex marido.
Quando despertou o meu interesse pelos homens, descobri que além de feia, desengonçada, sem peito e bunda e pouco popular, eu era sem graça. E para uma mulher nessas condições, a única arma que resta é o humor...que eu não tinha. Aliás, até tinha, só que, somado ao meio jeito desengonçado não causava graça. Acho que no fundo, as pessoas sentiam pena. Mas eu me esforçava, tanto que entrei para o teatro, mas isso não adiantou. Qualquer piada na minha boca era mais chata que missa do galo. Com o tempo me rendi. Ficava sozinha, pelos cantos, com minha feiúra e magreza, atingindo um estado de timidez quase autista. Isso afetou drasticamente a minha vida amorosa, que por ironia do destino era tão engraçada, que parecia uma piada.

Como nunca me dou por vencida, aprendi muito rápido o jogo do sarcasmo.  E igual que anos atrás, passei a castigar as folhas de papel pelas minhas frustrações. O mais louco disso tudo é que as pessoas riam do que eu escrevia. E além do sarcasmo, aprendi que rir da nossa própria desgraça é uma excelente terapia. Tudo bem, que já passei da fase de escrever sobre as injúrias do amor e sinceramente falando, gosto muito de escrever sobre coisas sérias. Mas o coloquial é tão atrativo e diariamente vejo roteiros tão interessantes diante de meus olhos que me tento a escrever sobre isso, até que nasceu este blog.

Se alguém mais, além do Lu, Carol, Pri, entre outros (valeu gente!), leem as merdas que escrevo, não sei. Pode ser que continuo tão fracassada quanto na minha adolescência, mas hoje, posso dizer que meu pai conseguiu dar um jeito na minha vida. Graças à sua insistência, tenho uma letra bonitinha, não cuspo mais no dedo e sou uma devoradora de livros, que ama escrever qualquer coisa, até mesmo piadas que ninguém ri.

3 comentários:

  1. jajaja miche eu tô rindo muito aqui e me lembrando dos meus desastres pessoais na infância, melhor fico pela infância msmo porque depois da adolescência é uma desgraça kkkkkkkkkkk. num é q tu leva jeito menina?
    bjs pris

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  2. "Seu negócio" deveria ser mesmo seu negócio ..

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  3. Pri:
    Recordar é viver!

    Mih:
    Valeu pelo elogio. Obrigada mesmo!

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