segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A loirinha
sábado, 12 de setembro de 2009
Amor de 8 minutos
Era uma manhã pedante e fria. Estava sentada no inóspido banco do metrô, quando ele venceu a enorme barreira humana parando logo ali, na minha frente. Meu sono matinal não permitiu identificá-lo entre a multidão, até que escutei sua voz que respondia ao celular.
Fiquei tão encantada que passei a observá-lo com mais curiosidade. Claramente ele percebeu o meu olhar e não sei que diabos deu em mim que lhe dei um sorriso. O rapaz ficou corado imediatamente. Mas estava tão delicioso flertar com aquele desconhecido que já não me importavam os pudores.
Sabíamos que a cada estação alcançada o nosso tempo diminuía, então, desfrutávamos daquilo que nos restava. Já éramos cúmplices. Meu coração batia forte, a respiração estava ofegante e sabia que com ele não era diferente. Finalmente, alguém desocupou um banco e ele sentou exatamente de frente para mim. Confesso que senti vergonha, mas a aventura de me apaixonar por um desconhecido e demonstrar o que sentia era tão irresistível que...deixei me levar pela situação.
Nossos olhos questionavam, "você tem alguém", "onde mora", "a gente daria certo", "será que beija bem", "seríamos felizes", "com quem nossos filhos se pareceriam"...uma infinidade de perguntas inúteis, pois nenhum dos dois se atreveria jamais a perguntar ao menos o nome. Faltavam 3 estações para a última. Nos sentíamos tristes: estávamos apaixonados e era fato que o nosso amor estava prestes a terminar.
Sabia que nunca mais veria aqueles olhos azuis, rosto tímido e mãos delicadas que destoavam com o corpo atlético de mais de 1,80m. Sutilmente, vi que ele tentava descobrir o meu decote, coberto pelo cachecol. Como quem sentia calor, me abanei com o pedaço de pano, fazendo aparecer uma singela curva do vulto desejado. Um sorriso me foi devolvido e num silencioso adeus nos despedimos.
Chegamos. Ajustando os papéis que tinha nas mãos pude ver que era advogado (ok, ninguém é perfeito). Como bom cavalheiro, esperou eu deixar a porta para depois sair. Olhei para trás na esperança de conseguir outro sorriso, um um aceno, mas entre aquele mosaico de gente éramos novamente dois estranhos e o nosso amor se desvaneceu para sempre naquele momento.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Chutando as bolas do mundo
Sabe quando você acorda atrasado para o trabalho, sai correndo sem o café-da-manhã, percebe que chove lá fora, mas que você esqueceu a merda do guarda-chuva, e na hora de tomar o metrô tem que enfrentar uma fila enorme e um infeliz tenta pagar a passagem com uma nota alta e a mal humorada da atendente não tem troco, e você afobado olha o relógio sentindo um brote de suor e angústia percorrer o seu corpo, desejando estar no lugar da Aline Morais que vai estrear a novela das 8 linda e glamurosa, percorrendo Paris, Petra, Búzios, beijando o Thiago Lacerda e ganhando horrores por isso? Enquanto você divaga a sua falta de sorte, a atendente do metrô divaga no troco e você certeiramente conclui “que vida de bosta tenho”!
Hoje não acordei me sentindo segundo as descrições acima.. Há dias venho acordando com a convicção de que Deus, nas palavras de Chico Buarque e cantado na saudosa voz da Cássia Eller é...
“... um cara gozador
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barriga da miséria
Eu nasci brasileiro...”
Com o pequeno detalhe de que nasci “brasileiro-pobre”...
Se ao menos você fosse um crente nas mensagens de auto-ajuda sua vida poderia ser mais fácil. Agora se como eu for racional demais para acreditar na filosofia do bom pensamento, atraindo assim bons fluidos, caro mío, bem vindo ao mundo dos fodidos e pior: conscientes de sua condição e situação de que as coisas pouco provavelmente vão melhorar.
Agora, neste momento estou processando os 100 míseros reais que meu chefe está negando a pagar-me, porque ele acha que o que ganho está acima do piso! O salário que cobro – porque ninguém me dá nada (aliás, detesto a denominação ganhar, muito utilizada por nós brasileiros) é uma piada de muito mau gosto. Moro na Argentina e como qualquer argentino meia-boca como eu, sabe que viver aqui é uma odisséia diária e um atentado a qualquer autoestima. Isso somando às pessoas idiotas com quem tenho que lidar todos os dias e mais a frustração de trabalhar com publicidade, criam verdadeiras turbulências na vida de uma singela brasileira que saiu do país em busca de aventura. E que aventura!
A vontade que tenho agora é de dar um chute tão cruel nos colhões do mundo que precisava compartilhar essa frustração, pois de uma coisa tenho a tardia certeza: a vida é injusta, o sol não nasce para todos e só não sabe quem não quer!
E continuando com a pertinente música do Chico...
...Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus não dar
Como é que vai ficar, oh, nega?
"à Deus dará" , "à Deus dará" ...