domingo, 16 de maio de 2010

Olhando para trás

Hoje acordei com uma vontade danada de comer arroz doce. Não porque sou fanática da combinação  arroz, leite condensado e leite. Na verdade, acho que esse foi um pretexto usado pelo meu subconsciente para replicar o mesmo sabor que senti há muitos anos atrás. No fundo, quero ter de volta o gosto da adolescência e saborear ao menos uma vez mais aquelas sensações que vivi numa São Paulo fria e chuvosa, que deixei no final da década de 90. E numa cidade fria e chuvosa, nada melhor que um bom prato de arroz doce para aquecer o corpo e o espírito, né não?


Um dia todo mundo vai embora, e eu sabia que em qualquer momento a minha vez chegaria. Deixei para trás os meus grandes amigos, a escola em que aprendi as primeiras letras, minha história. Em cada esquina podia ver uma cena diferente: eu correndo atrasada para a escola, o fusca inconfundível da professora megera, o muro dos beijos - e as vezes que fugi dele, minhas colegas do ballet, minhas brigas, os lugares onde me apaixonei, meus ex amores... tudo ali, reunido num conjunto de poucas quadras. É incrível como um complexo de ruas, edifícios e casas podem afetar tanto a vida de uma pessoa! E esse mesmo complexo, feio ou bonito, tem um significado muito importante para mim. Pois lembra a esse sabor de arroz doce que comemos com tanto prazer na infância, e é desse sabor que a gente não quer esquecer nunca. Quando recordamos dele, fatalmente sentimos um tremendo nó na garganta; quem já sentiu sabe do que estou falando. A gente suspira e disfarça a lágrima que quer escapar, resultando num sorriso descompassado, sem graça, improvisado.


Também chegou o dia em que deixei a casa da minha mãe. E com o passar dos anos, acabei esquecendo definitivamente o gosto do arroz doce. É engraçada a forma como a gente esquece de coisas importantes. E nem é um esquecimento voluntário. Vamos conhecendo e provando coisas novas, e o que estávamos acostumados torna-se um desconhecido. Ou um esquecido mesmo.


Amanhã terei a oportunidade de recordar à cidade fria e chuvosa de sempre. Sim, vou a São Paulo. Confesso que estou ansiosa, pois tanta coisa passou nesses últimos 12 anos! Claro que já voltei pra lá outras vezes, mas sempre adiando esse reencontro com a Michele de anos atrás. E isso está me causando um frenesi terrível, pois não é apenas reencontrar as ruas que andei, é também rever pessoas é recontar histórias e nesse momento desafiador, será inevitável não olhar para trás e comparar ambas Michele para saber se as escolhas que fiz foram as corretas, desde que deixei a cidade.


Sem dúvida são poucas as ocasiões que temos para um um reencontro consigo mesmo e fazer uma reflexão de tamanha profundidade como essa. Agora, estou nesse devaneio infantil, esse medo da crítica, essa curiosidade de saber o que mudou, o que ficou igual e como o lugar e as pessoas vão me receber. Se me tranformei em uma boa pessoa, se estou dentro das expectativas do que imaginaram o que seria a minha vida. Algumas vezes recuei e desisti desse reencontro com o meu eu, mas sei que não podemos fugir para sempre. E como parte do ritual, eu mesma preparei um arroz doce. Claro que não ficou como o da minha mãe, e não houve o lirismo esperado. Teve sim, um comentário de sogra feito por minha sogra "tem cravo demais, ficou forte".
O ritual seguiu como devia. Iniciei o meu reencontro e já com críticas! Devo estar preparada para elas, afinal, elas também fazem parte da vida. Voilà!


6 comentários:

  1. Ehhhh,Michelao!Já passei po isso tantas e tantas vzs,nas idas e vindas da vida,é inevitável esse reencontro com nós mesmos!
    Senti atravéz dessas linhas escritas por vc,o mesmo gostinho q anteriormente sentí ao voltar nesse ou naquele lugar!
    Com certeza vc vai ser bem recebida sim,óbviu as críticas virao,mas vc com sabedoria saberá,colocar essa crítica no bolso e se nesessário na sua vida mesmo,como aprendizado!
    Um grande beijo e muito boa viagem!!!!!!!!
    Ahhhhhh bonitona,eu quero meu arroz doce viuuuuu Hunf!!!

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  2. Boa Viagem!
    Que você consiga realmente fazer uma análise de todas as suas escolhas, rever alguns amigos e trocar experiências! Aproveite!

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  3. Rsrsrs,diacho,vc nem foi,já estou com saudadeeeeee!Estou um pouco tonta,creio q estou com anemia rsrsr!
    KKKK,olha o lugar q escolho p/ falar de mim kushkuash!!
    Boa viagem minha cheirosa!!!!

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  4. E deu vontade de arroz doce também, embora eu não consiga me livrar do da minha mãe. Bom reencontro!

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  5. Huum, quero comer um arroz doce bem quentinho, sentar com os pés em cima do sofá da casa que me mudei quando tinha 11 anos e assistir um programinha de TV com meu irmão (aos 8 anos).
    Seu texto me trouxe pr'um tempo aqui atrás. Brigada!

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  6. como siempre, yo llego tarde a todo, pero quiero que sepas que leer esto me provoca algo asi como...no se, una sensacion horrible de agitacion, el corazon galopa a pleno...
    vos ya sos una buena persona, por lo menos esa Michele que conozco me agrada... buen viaje corazòn, se feliz.
    ah! excelente post

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