Hoje acordei com uma vontade danada de comer arroz doce. Não porque sou fanática da combinação arroz, leite condensado e leite. Na verdade, acho que esse foi um pretexto usado pelo meu subconsciente para replicar o mesmo sabor que senti há muitos anos atrás. No fundo, quero ter de volta o gosto da adolescência e saborear ao menos uma vez mais aquelas sensações que vivi numa São Paulo fria e chuvosa, que deixei no final da década de 90. E numa cidade fria e chuvosa, nada melhor que um bom prato de arroz doce para aquecer o corpo e o espírito, né não?
Um dia todo mundo vai embora, e eu sabia que em qualquer momento a minha vez chegaria. Deixei para trás os meus grandes amigos, a escola em que aprendi as primeiras letras, minha história. Em cada esquina podia ver uma cena diferente: eu correndo atrasada para a escola, o fusca inconfundível da professora megera, o muro dos beijos - e as vezes que fugi dele, minhas colegas do ballet, minhas brigas, os lugares onde me apaixonei, meus ex amores... tudo ali, reunido num conjunto de poucas quadras. É incrível como um complexo de ruas, edifícios e casas podem afetar tanto a vida de uma pessoa! E esse mesmo complexo, feio ou bonito, tem um significado muito importante para mim. Pois lembra a esse sabor de arroz doce que comemos com tanto prazer na infância, e é desse sabor que a gente não quer esquecer nunca. Quando recordamos dele, fatalmente sentimos um tremendo nó na garganta; quem já sentiu sabe do que estou falando. A gente suspira e disfarça a lágrima que quer escapar, resultando num sorriso descompassado, sem graça, improvisado.
Também chegou o dia em que deixei a casa da minha mãe. E com o passar dos anos, acabei esquecendo definitivamente o gosto do arroz doce. É engraçada a forma como a gente esquece de coisas importantes. E nem é um esquecimento voluntário. Vamos conhecendo e provando coisas novas, e o que estávamos acostumados torna-se um desconhecido. Ou um esquecido mesmo.
Amanhã terei a oportunidade de recordar à cidade fria e chuvosa de sempre. Sim, vou a São Paulo. Confesso que estou ansiosa, pois tanta coisa passou nesses últimos 12 anos! Claro que já voltei pra lá outras vezes, mas sempre adiando esse reencontro com a Michele de anos atrás. E isso está me causando um frenesi terrível, pois não é apenas reencontrar as ruas que andei, é também rever pessoas é recontar histórias e nesse momento desafiador, será inevitável não olhar para trás e comparar ambas Michele para saber se as escolhas que fiz foram as corretas, desde que deixei a cidade.
Sem dúvida são poucas as ocasiões que temos para um um reencontro consigo mesmo e fazer uma reflexão de tamanha profundidade como essa. Agora, estou nesse devaneio infantil, esse medo da crítica, essa curiosidade de saber o que mudou, o que ficou igual e como o lugar e as pessoas vão me receber. Se me tranformei em uma boa pessoa, se estou dentro das expectativas do que imaginaram o que seria a minha vida. Algumas vezes recuei e desisti desse reencontro com o meu eu, mas sei que não podemos fugir para sempre. E como parte do ritual, eu mesma preparei um arroz doce. Claro que não ficou como o da minha mãe, e não houve o lirismo esperado. Teve sim, um comentário de sogra feito por minha sogra "tem cravo demais, ficou forte".
O ritual seguiu como devia. Iniciei o meu reencontro e já com críticas! Devo estar preparada para elas, afinal, elas também fazem parte da vida. Voilà!
Ehhhh,Michelao!Já passei po isso tantas e tantas vzs,nas idas e vindas da vida,é inevitável esse reencontro com nós mesmos!
ResponderExcluirSenti atravéz dessas linhas escritas por vc,o mesmo gostinho q anteriormente sentí ao voltar nesse ou naquele lugar!
Com certeza vc vai ser bem recebida sim,óbviu as críticas virao,mas vc com sabedoria saberá,colocar essa crítica no bolso e se nesessário na sua vida mesmo,como aprendizado!
Um grande beijo e muito boa viagem!!!!!!!!
Ahhhhhh bonitona,eu quero meu arroz doce viuuuuu Hunf!!!
Boa Viagem!
ResponderExcluirQue você consiga realmente fazer uma análise de todas as suas escolhas, rever alguns amigos e trocar experiências! Aproveite!
Rsrsrs,diacho,vc nem foi,já estou com saudadeeeeee!Estou um pouco tonta,creio q estou com anemia rsrsr!
ResponderExcluirKKKK,olha o lugar q escolho p/ falar de mim kushkuash!!
Boa viagem minha cheirosa!!!!
E deu vontade de arroz doce também, embora eu não consiga me livrar do da minha mãe. Bom reencontro!
ResponderExcluirHuum, quero comer um arroz doce bem quentinho, sentar com os pés em cima do sofá da casa que me mudei quando tinha 11 anos e assistir um programinha de TV com meu irmão (aos 8 anos).
ResponderExcluirSeu texto me trouxe pr'um tempo aqui atrás. Brigada!
como siempre, yo llego tarde a todo, pero quiero que sepas que leer esto me provoca algo asi como...no se, una sensacion horrible de agitacion, el corazon galopa a pleno...
ResponderExcluirvos ya sos una buena persona, por lo menos esa Michele que conozco me agrada... buen viaje corazòn, se feliz.
ah! excelente post