terça-feira, 6 de abril de 2010

De argentino e louco todo mundo tem um pouco

Se tem um manicômio a céu aberto, este lugar é Buenos Aires. E a maior concentração desses malucos, certamente é o metrô. Inevitavelmente, essa conclusão traz à tona uma conversa que tive com o meu pai certa vez. O velho dizia que eu pagaria por ser tão maldosa nos meus pensamentos. Hoje, acredito que de certa forma ele tem razão. Sou obrigada a tomar o metrô todo o santo dia, e nele vivo o que seria uma prévia do inferno eterno.
Mas, será que as pessoas ficam malucas porque usam o metrô ou o metrô é usado apenas por pessoas malucas?
Tá certo que o sistema subterrâneo portenho tem infinitos motivos para te fazer enlouquecer: não tem ar condicionado, os vagões são estreitos, existe um cheiro de queijo podre com merda fresca inexplicável, nunca são pontuais e até jato de lama do teto tem nos dias de chuva, inclusive, já levei um. Há!. 

Era um dia igual a todos os outros, quando no meio do túnel em que faço a baldiação, escuto um cara gritar "puta que pariu, que cheiro de bosta é essa?". Claro que ele falava em espanhol, e é claro que ele se referia ao cheiro misterioso que comentei mais acima. Ele era um sujeito magro e engravatado. Seu companheiro, um gordinho também engravatado, gesticulava freneticamente a mão na frente das narinas. Quem está lendo isto aqui deve estar se perguntando o que tem de loucura nisso. Acontece caro leitor, que os portenhos são particularmente "refinados". Não gritam (só quando protestam), não falam bosta (ou seus derivados) em um túnel que faz eco, menos ainda se estão engravatados. Concordo que nessas condições não seria antinatural afirmar aos berros o que todo mundo já sabe: que o túnel fede pra caralho. Mas acontece que para essas coisas, o argentino prefere ignorar o que incomoda, exceto, aqueles dois cavalheiros. A declaração me pareceu encorajadora, atrevida e engraçada. Ri, aliás, tentei rir. Não queria que o odor infernal entrasse por minha boca! Corri o mais rápido que pude e me enfiei no metrô. Sentei, abri o meu livro e percebi que do lado direito estava o engravatado magro, do lado esquerdo uma senhora com a cara da Lolita Rodrigues e após esta, o gordo engravatado. Naquele silêncio profundo, que só o metrô consegue ter, o magro repentinamente começou a falar de caganeira. Ok, problemas escatológicos, pensei. Todo mundo tem, e talvez, estes senhores sejam apenas desbocados, indiscretos e só. Mas de repente, o gordo solta um peido tão sonoro, que a Lolita Rodrigues quase enfarta de susto. Ao invés de rir eu fiquei com medo, pois tratando-se de louco, não arrisco.
Enquanto pensava se saía do meu lugar ou não, escuto o magro dizer ao gordo "ei, isso não se faz amigo! Olha as senhoritas...", "não foi de propósito, é o remédio que me deram lá na clínica", contestou o gordo. Não sei por que, mas a palavra clínica não me agradou. "O que você acha de irmos ao Jockey Club neste fim de semana?", indagou o magro, "Só se você prometer que não vai correr atrás dos cavalos e nem cuspir nas pessoas. Na última vez que fomos, nos internaram, lembra?". Era demais. Só podiam ser de alguma companhia de teatro (é comum aqui que os atores de pouca sorte se apresentem no metrô para pedir gorjetas). Foi então que decidi relaxar e continuar com o livro que tentava espantar o odor que pairava no ar. Mas então, percebi que a Lolita Rodrigues estava tendo convulsões de tanto reprimir o riso. Entrei no embalo e reprimi o meu também. Fiquei tão vermelha, que fatalmente despertei a atenção do magro. O infeliz não deixou por menos, começou a exaltar as minhas qualidades físicas, perguntou o meu telefone e decidiu encher o meu saco durante toda a viagem. E pior, todo mundo estava olhando para mim. Na tentativa de pedir clemência, olhei para a cara do gordo, que por motivo desconhecido considerei ser mais simpático que o outro. E para o meu mais sacro espanto, percebi que o cara tinha ticks contínuos e a mão tinha uma posição estranha. Foi então que percebi o porquê de todo mundo estar sério; eles realmente eram deficientes mentais, para não dizer loucos.

Normalmente, levantaria, sairia do metrô e esperaria o próximo. Afinal, não é a primira vez que sou vítima de gente maluca. Certa vez, um brasileiro xenofóbico de sua própria gente decidiu me cuspir e me chamar de puta na frente de todo mundo. Era loiro, não estava mal vestido, o que fez todo mundo pensar que ele não era um drogrado esquizofrênico, mas sim, que havia sido vítima da loirinha magricela que olhava tudo com a maior cara de espanto do mundo. E ele berrava! E disse todas as infâmias que lhe ocorriam na cabeça. E o mais hilário era que ele me identificou como brasileira, através do livro que eu lia: O Grande Mentecápito (ironia do destino, não?) Mas, voltemos ao gordo-e-magro.
Enquanto todo mundo fazia cara de enterro, eu e a Lolita Rodrigues não conseguíamos disfarçar o nosso escárnio. Tentávamos não encontrar os nossos olhares, mas era impossível. Os loucos perceberam que ríamos deles e, notando o protagonismo, iniciaram uma sessão de peidos e arrotos. O silêncio no metrô (por parte dos outros passageiros) ainda era mortal e obviamente, todo mundo ali queria atirar a pobre Lolita e eu nos trilhos. Ninguém movia um lábio, não tinham o riso reprimido, só a cara de bronca. Ao contrário de mim e da simpática senhora, que no embalo dos sons nojentos, ríamos na maior felicidade, cúmplices daquela loucura.
É como diz a minha mãe: Se você não pode com um louco, junte-se a ele.

7 comentários:

  1. coitadinha! mas que engraçado!!!!!hahahahahaha...
    nao se preocupe, mas voce esta no pais das maluquices.
    pena os tios nao peidaram com cheiro de flores!
    excelente menina! eu ri tambem, e reprimi o riso, pois meu bebe ta dormindo.

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  2. Hhauaauauahha
    Que engraçado!
    Não reclame do metrô de Buenos Aires! O do Rio tem ar e não presta, vai por mim... Com relação ao fedor...aqui no Rio é tão lotado, tão lotado que o ar pode não ser fedido mas os suvacos esfregando no seu rosto são! E olha que eu passo por isso todos os dias...já até aprendi a respirar ao contrário nesses momentos... sou séria concorrente a provas de resistência de BBBs.
    Não vejo a hora de voltar a Buenos Aires! Amo a cidade e sou louca pra morar aí (invejinha básica humpf!!!!)
    Relaxe girl!
    Beijocas da nova seguidora da blogosfera!
    Daleeee

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  3. eu acho que todos fedem em algum momento da vida, só resta vc aceitar essa situaçao ou entao tomar banho ou usar perfume como fazem alguns...
    acho q como vc diz é levar na brincadeira, pois se ficamos estressados pelos cheiros q encontramos, imagine com coisas piores...
    O metrô de Buenos Aires é ótimo porque te levo a vários lugares, agora me desculpe falar q é melhor q do Rio ou de Sampa no quesito limpeza é pura mentira.
    No Rio e em Sampa fedem pelo suor devido ao calor, ok isso vc nao pode controlar, o pior é feder porque nao toma banho e isso em buenos aires eu já vi.
    adorei miche e ri muito porque essas coisas só acontecem com vc, parece q vc é um ima para tais situaçoes. bjs pris

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  4. Não sabia que Buenos Aires era lugar de gente louca, vou ficar por aqui na minha Porto Alegre! Que tem também seus loucos, mas, comparados aos que tu viu aí, são poucos!

    Um abraço!

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  5. "essas coisas só acontecem com vc, parece q vc é um ima para tais situaçoes"

    Tal cual jajajaja

    besos!

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  6. Lembrei de outra coisa que não escrevi no comentário mas preciso complementar desabafando. Hoje por exemplo, metrô lotado, demorou um tempão para passar,o motorista toda hora freiando e dando solavanco nas composições e o povo rindo, menina!!! Riem de tudo!!! Acham o máximo ficar esmagadas! Fazem baderna, sabe? Gritam do tipo: Vamo empurrááá...e entram...coisa de maluco. Será que elas não poderiam nem por um dia fazer uma cara de cu e de indignação?
    Sóbria é vc que tá aí.
    Kisses, falei.

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  7. Iza: Desculpe, vc é argentina e sabe o que sofremos nesta cidade. Beijoss!

    Atitude 1: Podemos lançar um concurso "os piores metrôs do mundo" e fazer uma terapia em grupo online. Quando vier a Baires, avise!

    Pris: Acontece comigo! Só comigoooo. É karma! rs

    Léo: Aqui, o mais normal atira pedra na lua! Olha que tem muito gaúcho por aqui...será que vocês são os culpados? haha. beijos e bem vindo!

    Vicky!: Bom ter você por aqui de volta! Besote!

    Atitude 2: É o jogo do contente! Maldita Pollyana!

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