sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Os três elementos fundamentais da vida

Quem já não ouviu por aí que devemos plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho (não necessariamente nesta ordem)? São os chamados deveres vitais. Você já providenciou os seus? Eu até que estou tentando, mas não sei se a coisa é só comigo ou se com os outros passa algo parecido...


1) Plantar uma árvore
Sendo bióloga, todos devem imaginar que é o que eu mais faço nesta vida. Pura balela! A única planta que tentei enfiar sob a terra morreu, e sem deixar sementes.

2) Escrever um livro
Estou tentando há anos, mas confesso que não vou além do primeiro parágrafo. Até tenho um título de impacto, desses suaves, sensíveis, de fazer muita madame gastar tempo e dinheiro neles: Gotas na Janela; Pés sobre folhas secas; Laranja Semi-Amarga...Ok, reconheço que meu talento é limitado, e antes fosse apenas para escrever os primeiros parágrafos...


3) Ter um filho
Todos os dias lemos algo sobre aquecimento global, desastres ambientais, escassez de água. Também, delinquência e aumento da violência. Assim como acréscimo no preço dos alimentos, na inflação, na taxa de desemprego. Hoje um pai sequer pode pensar em castigar o filho, pois temos o Conselho Tutelar, Direitos Humanos, Educação Alternativa...Sem contar que as novas geraçoes estão mais expostas às drogas, Aids... 

E ainda me pedem para deixar um descendente?! Acho que dedicarei mais tempo às plantas e à literatura.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Síndrome do fracasso, um castigo pelos meus pecados?

É patente que padeço do complexo de inferioridade. Mas ressalto que nem sempre fui assim. Talvez porque nunca havia convivido com gente rica, muito mais inteligente e bem sucedida do que eu. Sendo assim, no meu micro mundinho eu era a rainha da cocada preta e aqui eu sou a rainha da sucata.

Vivendo em Buenos Aires, fatalmente meu círculo social mudou. Se antes morava nas repúblicas da vida sem me importar, hoje sou uma residente de um bairro classe média alta portenho revoltada. Penso que estou assim porque estou rodeada de gente bem sucedida, que contrasta com a minha vidinha fracassada.

Meus amigos eram estudantes quebrados, que como, eu tinham de luxo uma viagenzinha para o litoral no fim do ano. E convivendo com seres mortais, não exigia demasiado de mim. Hoje, meus conhecidos são pessoas que viajam para Cuba, Nova York, Londres, como se estivessem indo ao Brás aproveitar uma promoção. Nestas condições, fico imaginando as coisas que possivelmente estou perdendo e que certamente não poderei recuperar, porque sou pobre, ex filha do rigor, jornalista e bióloga (hahaha).

Hoje sou uma pessoa invejosa, gente. Não dá para evitar, tem vida própria. Até tento me comparar com o mendigo da saída do metrô, mas não funciona. Tomei gosto pelo glamour que o dinheiro pode proporcionar e se o dinheiro não traz felicidade, com American Express você pode parcelá-la.

Agora, imaginem essa infeliz no metrô todo o santo dia. Enquanto sua cara está enfiada no sovaco peludo do grandão ao lado, ela nas pessoas que tem a sua idade e que já possuem carros e bons trabalhos, que lhes permite ir a Cuba, Nova York, Londres ou Dubai. Chegam aos seus respectivos trabalhos perfumados, íntegros, atraindo gente interessante como eles. Minha condição é oposta. Viajo numa caixa apertada, fedorenta, sempre com uma criança esguelando ao lado e com um velho que peida a sopa paraguaia da noite anterior. Chego ao trabalho praguejando o meu destino e se alguém me diz bom dia, penso bom dia o caralho, filho da puta! Como se não bastasse, encontro meus colegas reclamando os 100 reais que faltam no salário da gente. Vou tomar um ar na sacada do prédio e penso qual eficiência tem o 10º andar para se jogar e não correr o risco de ficar tetraplégica.

"Você está permitindo que o sistema te enlouqueça. Você não pode se render à ideologia do capitalismo neo liberalista, racista, segregacionista, pervertida, indolente e cruel". Não, não quero ser mais uma que esbanja o luxo e vomita a sobérbia sobre a base da pirâmide social. Só quero ter uma recompensinha por tantos esforços, puxa! Deusinho do céu, eu acho que eu mereço. Sempre fui boa filha, estudiosa, obediente. Não fui namoradeira, dei meu primeiro beijo aos 21 e só beijei 3 deusinho, 3 bocas! Com isso, eu mereço ser canonizada. Dou esmola, não cobiço o homem do próximo, faço o bem sem olhar a quem...Já sei, sou ateia, mas puxa, alivia aê pô. Quem sabe mudo de ideia e viro evangélica?

Epa! Será que é isso? Será que tenho que me inscrever ao universo do reino de deus para ser merecedora do júbilo e do gozo eterno? (sem duplo sentido). Então tá deusinho. Se eu rezar um terço ou predicar a palavra, o senhor garante que terei um aumento e assim finalmente poderei comprar um audi?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reencontro com os ex

Semana passada tive uma série de sonhos retrospectivos com os homens pelos quais um dia me apaixonei. Meus sonhos foram tão ricos em detalhes (características que mais gostava e detestava em cada um), que confesso, algumas manhãs despertei nostálgica.

Asseguro que não sofro de paixão recolhida por nenhum deles, até porque, com a maioria nunca tive absolutamente nada, apenas um singelo amor platônico.
Coisas que me chamaram a atenção nesses sonhos é que, além de reencontrá-los, eu repassava a limpo as mágoas (quando existiam), vivia intensamente coisas interessantíssimas com cada um e depois me despedia para sempre.

Meu fim de semana, que acompanhou chuva e friozinho fora de época, foi usado para refletir: as bobagens que eu fiz, a  covardia de eu nunca ter me declarado a muitos deles e como teria sido a relação com cada um. Sim, coisa de mulher pré-envelhecida, aliás, nem sei porque estou compartilhando essas coisas, que são bem demodês, por sinal.

De tudo isso, sabe o que eu percebi? Que na maioria dos casos a gente sofre por estupidez. Em quase todas as situações fui orgulhosa, segui um joguinho de sedução, e foram essas besteiras que mais me causaram dor de cabeça. E como aprendemos com os nossos erros (afinal, essa é a definição de "amadurecer"), aprendi que temos duas possibilidades na vida: um sim ou um não. O último pode até te fazer sofrer, mas certamente você se livrará desse sofrimento muito mais rápido. E concluo que se as pessoas fossem mais conscientes disso e da vida curta que temos, não desperdiçariam seu precioso tempo com essas coisas.

Ri muito de mim. E é muito legal rir de si. Sério, senti saudades dessa Michele amadora, insegura, tonga e desconfiada. É claro que a pouca idade e a falta de experiência fizeram de mim uma covarde e não havia forma de eu saber como deveria atuar. Então, no meu sonho eu compensei isso. E em cada encontro, contei aos meus ex amores o que senti por eles, o que mais gostei de cada um, não sem destacar o que eles tinham de pior.

Obviamente que essas reflexões me deixaram curiosa sobre o destino que cada um teve na vida. Sem mais rodeios, comecei a usar os aliados mais importantes da era moderna: orkut e facebook. Teve gente que posso dizer "senti saudade". Já outros, sinceramente agradeci à minha lucidez de tê-los esquecido logo! E alguns, simplemente não tive ratros, desapareceram! Penso que morreram ou são desprovidos de internet. Fala sério, hoje em dia ninguém pode simplesmente desaparecer!

De qualquer forma, uma ideia maluca apareceu na minha cabeça. O que seria se eu fizesse uma grande festa e reunisse todos esses homens num único lugar? Seria um reencontro, como esses que a gente faz com a galera da escola, sabe? Um ambiente sofisticado, uma banda de jazz tocando ao fundo e eu ali, simplemente deslumbrante, com uma taça de vinho na mão (porque eu detesto champange). E é claro que estariam presentes as amigas (aliadas) que me faziam saber se eu tinha chances com o fulano ou o beltrano. Enfim, todos os que participaram das minhas histórias amorosas seriam testemunhas dessa minha reuniãozinha bizarra. A imaginação foi ganhando corpo. Passei a avaliavar meus ex com uma sentença: bonito; muito calvo; engordou; tá acabado; tá lindo; quem é perua do lado dele?; ficou rico é?... Agora são gargalhadas, pois só uma demente como eu para ter um tão cérebro fértil assim.

Então, ainda no mundo da imaginação, me sentaria com cada um. Conversaríamos sobre tudo, até que em um determinado momento da noite, dançaríamos a música que marcou a "nossa história" (claro que só eu saberia que música é essa, afinal, apenas as mulheres padecem dessas babaquices de tema para cada caso de amor), e finalmente iríamos para a sacada do edifício ( no edifício Itália). Com a brisa fresca em nossos rostos, nossos corpos se aproximariam e nos beijaríamos intensamente. Digo beijo intenso, porque muitos sequer beijei e fico curiosa por saber se beijam bem ou não. E igual ao sonho, diríamos coisas lindas um para o outro e a noite terminaria sem rancores, sem lágrimas, sem dor. Selaríamos o final dessa curta relação com o beijo intenso. Levaríamos um do outro a melhor imagem, o melhor sentimento. Lindo, não?

Mas é claro que essas coisas só acontecem nos meus sonhos. Certamente esses homens, se não estão casados, justificariam essa minha debilidade como uma tentativa de eu querer dar para eles. Vixi, não daria certo mesmo! E o sexo passa longe da minha cabeça, neste caso. Trata-se apenas de uma mulher querendo reencontrar os amores de sua vida; resgatar o passado porque está nostálgica e com o capricho de querer transformar todas as frustrações amorosas em algo concretamente especial. Mas acho difícil reencontrar o Dimis, o Cássio, o Junior, o Diogo, o Terence (sim, me apaixonei por alguém com o nome Terence, rsrsrs), o Rodrigo, o Fabio, o Martin...

Mas com todas essas combinações de letras que publico agora, gostaria que por um momento eles soubessem que para mim foram todos muito especiais. Que alguma vez os amei e que esse amor, por mais pitoresco que fosse, significou muito para mim, afinal, eles me ajudaram a ser o que sou hoje.

Então meninos, este post é dedicado a cada um de vocês! Não me importa o que fizeram com suas vidas ou se sequer sabem que eu existi. Um beijo enorme em cada um de vocês, onde quer que estejam.


Gostaria de que fosse a versão com Burt Bacharach. Mas tá valendo, a letra é bem oportuna para a ocasião.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Conversa de 2 minutos, depois de 5 anos

Pra falar a verdade, sem querer, sempre fui uma pessoa polêmica e consequentemente, mal interpretada. Às vezes que briguei na escola, não foi por causa dos meus brinquedos roubados ou porque alguém me empurrou no recreio, mas porque desde pequena digo o que penso sem filtros. Cresci, e hoje até posso frear um pouco as minhas palavras, mas a injusta fama ficou: cruel. Digo injusta, porque todo mundo diz e escreve por aí que deseja encontrar pessoas sinceras. Mas no decorrer da vida, aprendi que os seres humanos nunca estão preparados para a verdade. Gostam mesmo é da mentira. Portanto, se você mente é querido por todos.

Ontem, depois de 5 anos sem falar com a minha avó Stella, decidi ligar para dizer um "oi". Consciência pesada, pois a japonesa está com quase 80 anos, não deveria esperar mais. Liguei. Parecia que eu conversava com um freezer "sim, não, talvez, ok, ah".

Nunca soube ao certo o porquê de um eterno silêncio e ressentimento de uma pessoa que sempre foi amorosa comigo. Descobri, obviamente não através dela, que fiz um comentário que ela não gostou. Lembro o que disse, e não estava errada ao dizê-lo. E não foi em momento de discussão; o que falei foi em tom de conselho. Mas pelo jeito, ela não entendeu e assim estamos.

É outra estupidez clássica do ser humano: carregar a bronca sem sequer ter o mínimo de vontade de dissolvê-la. Esclarecer o que te aborrece não é ferir orgulho. Ao contrário. Conversar é a solução de muitos problemas. E a superação deles também.

Foram 2 minutos infelizes, porque obasan, poderíamos ter aproveitado esse tempo para falar e superar esse infortúnio juntas. Mas se você prefere seguir a sua jornada com esse rancor bobo sozinha, boa viagem!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Amor unilateral

"Iiiii, lá vem papo de Luluzinha", você deve estar pensando.
Não é bem assim, explico. É que tive uma conversa tão triste com uma amiga que simplemente, fiquei com vontade de contar sua história.

Luli, minha amiga, é colombiana. Jovem e inteligente, conheceu um cara que aparentemente gostava dela. Tanto que a estimulou deixar Bogotá para viver com ele, aqui em Buenos Aires. O cara é na verdade um idiota. Primeiro porque ele é extremamente racista e preconceituoso. Segundo, porque ele foi traído pela ex mulher e por isso, acha que todas as mulheres são vagabundas. Terceiro, porque ficou doente, tornou-se uma pessoa incapaz de amar e de manifestar qualquer sentimento que não seja deboche por qualquer pessoa, gesto ou lugar, e não reconhece isso.

Como toda mulher, minha amiga pensou que podia curá-lo. Cozinhou-lhe as melhores receitas, tentou interagi-lo com pessoas normais, deu-lhe amor, fez lipo e aumentou os seios para agradá-lo. Mas acontece que tudo tem um limite, e os recursos de Lina estavam esgotando.

Brigaram diversas vezes, porque ela sentia a necessidade do seu amor. Um dia se desentenderam feio e ela deixou a casa que compartilharam por 2 anos. Ele? no dia em que ela o deixou, só foi capaz de dizer-lhe "boa noite".

-  Estou arrasada Mi! Dois anos não podem terminar assim! Fiz tudo por ele.
- Aí está o problema, esperar que a pessoa mude, fazer tudo por ela . Ninguém  muda, apenas camufla. Podemos ser mais tolerantes, fazer sacrifícios, mas não mudamos Lina, o que somos está na nossa essência e com ele não foi diferente.
- Nunca escutei um "eu te amo", "obrigada", "sinto sua falta". Acho que eu estava ali mesmo só para ser comida.
- .....
- É duro amiga, estou sofrendo muito. E quer saber? Nunca mais quero vê-lo!
- É o melhor que você faz. Aproveite este momento para dedicar-se a você e às pessoas que te ama. Parece frase tirada da gaveta, mas a verdade das coisas é simples e óbvia. Tente esquecê-lo, será o melhor para você.
- Mas eu o amo Mi!
- E você quer viver um amor unilateral para o resto da sua vida? Continuar com as humilhações, viver nessa insegurança? Seja forte, aguente o que está sentindo agora. Será menos doloroso do que extender essa relação fadada ao fracasso.

Desligamos o telefone, ela chorava muito do outro lado. Pensei, respirei aliviada por não estar na mesma situação e refleti que temos uma grande dificuldade de desapegar das coisas, pessoas, por mais mal que elas nos fazem. Será duro Luli recomeçar. Mas acho que nesta vida temos que aprender a escolher quando reter ou liberar algo.  Não se trata apenas de felicidade, mas de sanidade sentimental também.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Lado pervertido?

Todo mundo tem. E há pouco, descobri que adoro ver homens se beijando. No rosto! Na boca ainda não tive o prazer de ver. Não, na realidade vi uma foto de um amigo meu, bem cara de pau, que me enviou quando disse que duvidava de sua homossexualidade. Mas voltando aos beijos inocentes no rosto, que os homens argentinos dão, putz!

Hoje, na ida ao trabalho, vi um homem lindo. Raridade! O moço moreno claro, de olhos azuis e costas largas como o território brasileiro era lindo. Que queixo era aquele? Claro que ele nem notou a minha existência, pois ao contrário de homens maravilhosamente lindos, as mulheres bonitas aqui são abundantes.

O moço de costas largas reconhece um amigo. Um loiro gostosinho (não sou chegada nos loiros), mas aquele, até poderia conseguir um beijo da brasileira que vos escreve. Fiquei olhando a cena e zazzz, os dois se cumprimentam com um beijo no rosto, que pra mim, durou mais do que deveria. Pra minha felicidade, claro. Se eram gays, duvido. havia testosterona demais no jeito deles. Aiiiiiiiiiii!

É uma pena que os brasileiros não se beijam no rosto. Imagine o Cauã Reymond de sunga na praia encontrando com o Rodrigo Santoro, também de sunga. "Olá Cauã", "Olá Rodrigo" e smuakkk........

Bem gente, é melhor eu parar por aqui. Acho que é isso, é minha libido que anda meio em alta.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sessão nostalgia: meus 5 minutos de fama e o meu primeiro sinal de que seria jornalista

 
Gente, Sula Miranda!!! Quem lembra? rsrs

Faz tempo. Foi na época em que eu acabara de iniciar o Ensino Médio. Escola nova, gente desconhecida para eu impressionar. Essas coisas, me impulsionaram a escrever um cartaz com uma frase bem inocente, mas que causou certo efeito. O resultado? Eu e meu cartaz saímos num jornal de São Paulo...

Na hora do almoço, eu e meus colegas de trabalho nos reunimos na cozinha e falamos sobre qualquer coisa. Quando mais inspirados, estipulamos um tema. Hoje, não sei porquê falamos de escola, ou melhor, de quando estudávamos. Caras bonitinhos, uniformes bregas e festinhas bacanas foram os assuntos abordados, até que, sem muito o que contar, confessei que não ia muito a essas festas. O motivo, pais ultraconservadores. Para eles, menina de 15 anos ir em festinha era coisa de putinha; se eu fosse, deveria levar um dos pestinhas dos meus irmãos para a gandaia. E que gandaia é gandaia quando se leva sua irmã fofoqueira de 7 anos para uma festa?

Então, acabei contando que certo dia (tentativa de me rebelar) decidi ir para uma das piores escolas do bairro. Muita festa, muita maconheiro e muita, mas muita putinha. Claro que nessa altura do campeonato eu já estava mais que lesada, e obviamente não me juntei com essas moças. Fui logo ser amiga das feias, desengonçadas, songas-mongas. Tá bom, eu era do grupo das losers. Mas era certo que eu devia mudar o rumo da minha vida, estar entre os rebeldes para afrontar os meus pais; estava cansada de ser a filha certinha.Não entrarei em detalhes de como fui parar nesse dito colégio, mas a verdade é que ele era um lixo. Caótico! Completamente diferente da escola estruturadinha que eu vinha. Pois bem, o colégio era tão ruim que o teto estava ameaçado em desabar. As salas de aula eram grutas, pois as lâmpadas ou estavam queimadas ou haviam sido roubadas por algum aluno tranqueira. E esse mesmo colégio, também era um centro de movimentos estudantis. Era gente que discutia política, teatro e literatura no recreio!!! E onde há subversivos, há anarquia e não demorou muito para armamos um protesto.

Tudo muito amador, mas conseguimos fechar uma das principais avenidas do bairro e, percebendo o barulho que estávamos fazendo, nos encorajamos a potencializar as reivindicações. Uma barbie, amiga minha (estou me referindo a um amigo gay e não ao realismo fantástico do Gabriel Garcia Marquez), tinha um namorado jornalista (se meu pai estivesse lendo este post, diria que sempre tive uma tendência a me juntar com a escória. Com isso, deixo claro que ele detesta a ideia de eu ser periodista). Esse jornalista mexeu os pauzinhos (não me pergunte quais) e conseguiu reunir dinossauros como Folha, Diário, Notícias
Populares...No embalo, fiz um cartaz de pouco conteúdo, mas de muito impacto para uma neopobre de 16 anos, moradora da Zona Leste da capital paulistana, estudante daquele colégio de merda.

Se cada mergulho é um flash, cada clicada era a Michele e seu cartaz verde escrito em tinta preta. Era só ver um jornalista que minha barriga esfriava, minhas mãos tremiam e quase tinha um orgasmo (nessa época, sequer imaginava o que era isso), mas sentia uma emoção e satisfação tão grande que tudo o que desejava era acompanhar aquela caravana de máquinas fotográficas, bloquinhos e cabeludos com cigarros na boca (meu pai diria....).

Meu pai disse:
- Você vai levar uma surra! Onde já se viu filha minha sair em jornal de marginal!
A princípio, não tinha ideia do que o meu pai falava. Tudo bem que nessa época tinha amigos grafiteiros, alguns maconheiros, mas jamais havia pintado uma parede ou provado um baseado.
- Quer dizer que a senhorita anda parando o trânsito?
Odiava as ironias e rodeios do meu pai antes de me dar uma bronca.
- Bate, castigue, mas seja o que for, eu não fui!

Jogou um jornal com uma bunda gigante em cócoras sobre a mesa. Meses depois descobriria que essa mesma bunda se chamava Carla Perez. O jornal me deixou mais confusa, não sabia em absoluto o que meu pai dizia.Abri o periódico, com péssima diagramação e com notas do tipo "Homem se masturba com aspirador de pó e perde o pinto", num cantinho de uma página par estava eu, junto com outros estudantes, segurando o cartaz no anfiteatro do colégio que mais parecia um campo de refugiados.
- Manhêeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee, saí no Notícias Popularesssssssssssss!!!!

Corri tão rápido, tão excitada, tão ofegante, que meu pai nem teve tempo de me puxar pelos cabelos e exigir maiores detalhes. A foto pequena causava desconfiança dos invejosos, orgulho em alguns membros da família. Só meu pai que desaprovava a minha súbita fama.
- Menos mal que não dá pra ver muito a sua cara, já que esse cartaz cobre quase você inteira.

"Um país carente de educação, fomenta a ignorância de sua gente e a desmoralização de sua sociedade".

Isso dizia meu cartaz! (Eeeeee bons tempos).
Naquele mesmo dia, em que me via naquele jornal, posso garantir a vocês que nasceu o meu primeiro lead, a minha primeira matéria que jamais foi publicada. Mas que está guardada entre muitas outras recordações desses anos dourados da minha vida.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Segunda-feira

Por que insistimos em conviver com coisas que nos desagradam? Por exemplo, quem é que não tem um trabalho pouco rentável, um namorado banana, uma amiga linda demais e gostaria de mandar tudo isso pra PQP? Qual o motivo que nos leva a suportar coisas como políticos corruptos e homens infiéis?  A razão é a mesma pela qual todas as segundas-feiras vamos submissamente ao escritório realizar (na maior parte do nosso precioso tempo), algo que nos desagrada e que não tem qualquer similaridade com o que sonhamos algum dia para as nossas vidas.

E assim como você, estou atrás de um computador. Eu, olhando imagens da Polinésia, você, não sei. Mas como você, caro leitor, provavelmente jamais mergulharei nas águas do Pacífico; meu salário é insuficiente para este gosto. Então, fico aqui mofando neste escritório, odiando a vida por minhas limitações e culpando as segundas-feiras por pensamentos tão pessimistas.
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